Por João Romano*
Quando um profissional da saúde adoece, é essencial que ele receba a compreensão e o apoio dos gestores e colegas. Estar preparado para essa eventualidade, especialmente quando a doença está relacionada à saúde mental, é vital para enfrentar o estigma que ainda prevalece. A busca por tratamento é uma parte fundamental da vida de todos os colaboradores da área da saúde.
Apesar de ter acesso a uma vasta quantidade de informações e, teoricamente, maiores condições de prevenção e tratamento, muitos profissionais de saúde enfrentam desafios únicos que dificultam a busca por ajuda. Observa-se que esses profissionais apresentam maior vulnerabilidade, procuram menos ajuda, apresentam altas taxas de abandono ao tratamento e enfrentam complicações significativas.
Diversas razões contribuem para essa situação, como a negação das próprias necessidades, dificuldade em aceitar-se como doente, vergonha e orgulho em buscar apoio, além do receio de prejudicar sua imagem profissional. Cada um desses fatores contribui para a maior vulnerabilidade dos nossos profissionais.
Quando o assunto é saúde mental, especificamente, um estudo da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), realizado entre junho de 2021 e abril de 2022, revelou que os profissionais de saúde brasileiros da rede pública apresentaram indicadores negativos na pandemia de Covid-19. A pesquisa revelou que 86% desses profissionais sofreram com Síndrome de Burnout e 81% com estresse. Sintomas depressivos leves foram encontrados em 22% dos profissionais de saúde, enquanto 16% exibiram sintomas depressivos moderados e 8% severos. Má qualidade de sono (74,4%) e dores pelo corpo também foram frequentemente relatadas.
Como já foi divulgado amplamente, a crise global na saúde mental se intensificou com os desafios e mudanças ocorridos no mundo, como o isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19, as transformações sociais e econômicas aceleradas e as pressões cotidianas. A saúde mental desempenha um papel primordial no bem-estar geral, influenciando como um indivíduo lida com os desafios e pressões da vida, além do equilíbrio entre desejos, habilidades, ambições, ideias e emoções.
Uma saúde mental comprometida pode afetar profundamente aspectos do cotidiano, como relacionamentos afetivos, familiares e o ambiente profissional, ocasionando prejuízos, por vezes, irreparáveis, à rotina.
Identificar sintomas de problemas de saúde mental e buscar ajuda especializada o quanto antes é crucial. Consultar um profissional de saúde mental pode proporcionar o suporte necessário para enfrentar esses desafios de forma eficaz, promovendo melhor qualidade de vida, maior bem-estar emocional e a capacidade de desempenhar funções de maneira equilibrada. Incentivar essa prática é essencial para garantir a saúde integral dos profissionais de saúde e de todos os indivíduos.
Para enfrentar esse cenário, é necessário integrar o assunto em diferentes políticas públicas. No ambiente corporativo, a saúde mental dos colaboradores é um elemento central e as empresas têm um papel crucial em sua promoção. Programas de suporte psicológico, ambientes de trabalho saudáveis e políticas que promovam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional são fundamentais. Quando os profissionais de saúde estão mentalmente saudáveis, eles estão mais capacitados para fornecer cuidados de qualidade aos pacientes.
Reconhecendo essa necessidade, muitas organizações têm adotado medidas para garantir o bem-estar de sua equipe. Aqui no CEJAM, recentemente fechamos uma parceria com uma plataforma online, especialista em saúde emocional, para oferecer sessões de terapia online aos colaboradores. Além disso, investimos em um espaço de escuta qualificada por meio da medicina do trabalho, com uma equipe multidisciplinar composta por médicos e psicólogos, disponível para apoiar os profissionais quando necessário.
Outra iniciativa destacada e que possui bastante aderência é a Roda de Terapia Comunitária, realizada mensalmente. Esse espaço oferece apoio para a redução da ansiedade, estresse e sobrecarga emocional, fomentando um ambiente de trabalho mais saudável e equilibrado. Nós ainda, facilitamos o acesso dos colaboradores a academias e estúdios para a manutenção da saúde física e incentivamos o combate ao sedentarismo por meio da participação em grandes eventos de corrida e caminhada de rua em São Paulo.
É importante ressaltar que nem todas as reações emocionais indicam uma desordem mental, pois as múltiplas reações às situações cotidianas fazem parte do ciclo de vida de todas as pessoas. A intensidade e a duração dos sintomas, e a repercussão negativa que eles causam nas atividades diárias, como redução de desempenho, desadaptação e sofrimento, são os principais indicativos de alerta. Nesses casos, procurar apoio psicológico é uma demonstração de coragem e autocuidado. Ao buscar ajuda profissional, você está se permitindo crescer, aprender e descobrir novas maneiras de lidar com os desafios da vida.
A saúde mental dos profissionais que atuam no setor é um aspecto fundamental para a sustentabilidade e a eficácia de qualquer sistema de saúde. Esses profissionais, que dedicam suas vidas ao cuidado dos outros, também precisam ser cuidados. É imprescindível criarmos um ambiente onde a busca por apoio psicológico seja encorajada e normalizada, sem medo ou estigma. Somente assim podemos assegurar que esses profissionais continuem a desempenhar seu papel vital na sociedade de maneira saudável e sustentável.
No CEJAM, acreditamos que promover o bem-estar emocional de nossa equipe é essencial para garantir a qualidade dos cuidados que oferecemos ao usuário do SUS (sistema único de saúde). Nossa gerência corporativa e o departamento de recursos humanos estão totalmente comprometidos em implementar e manter iniciativas que fortaleçam a saúde mental de todos os nossos colaboradores.
Como gerente executivo de uma organização social de saúde, vejo de perto a dedicação e o esforço incansável dos nossos profissionais da saúde. E é nossa responsabilidade garantir que eles recebam os recursos e o suporte necessário para cuidar de sua saúde mental. Reconhecer e tratar as questões de saúde mental, com a mesma seriedade que tratamos a saúde física, é mais que uma necessidade, é um dever. Juntos, podemos aprimorar ainda mais nosso ambiente de trabalho, onde todos se sintam valorizados, compreendidos e apoiados.
* João Romano é gerente executivo do CEJAM